segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Bloco de Esquerda e o século XXI


Camaradas, dizia Francisco Maçã, chegou o momento das grandes mudanças a operar no nosso partido. De Hora avante, acabou-se a política do chefe único. Isso são formas arcaicas de gestão política. Práticas com as quais um partido revolucionário como BE, deve imediatamente romper.

Por isso já decidi, democraticamente, que o nosso partido passará a ser dirigido de uma forma bicéfala, cujo poder será partilhado por um homem e uma mulher, mais propriamente dito, pelo camarada João Sem Medo e pela camarada Catarina Patins.

Aquilo surgiu com uma bomba no meio dos militantes do BE. Um sussurro de vozes espalhou-se pelo enorme salão. Camarada, dizia um, isto é o despertar  duma revolução gigantesca que se avizinha no nosso partido.

Sim! Concordou o outro. Dizem até que vai ser aberto um concurso de ideias, no sentido de alterar por completo, a forma de pensar, agir e conduzir o nosso partido, passando este a reger-se por praticas inovadoras, vanguardistas e fraturantes.

Por exemplo,dizia outro, vamos substituir a nossa exigência de liberalização das drogas leves pela liberalização de todas as drogas, sejam elas leves, pesadas, duras ou assim assim.

E em relação à nossa dívida externa, também podemos evoluir bastante. Recusar apenas pagar a dívida é coisa do passado. Vamos é exigir aos Alemães, à Srª Merkel e à Troika, uma elevada indemnização pelos traumas psicológicos que nos têm infligido, ao nos terem imposto tanta austeridade.

Entretanto alguém mais avisado, num tom preocupado, retomou a questão da liderança. Mas, camaradas, e se  a experiência da direcção bicéfala não correr bem? Se aqueles dois não se entenderem, por exemplo? Voltar depois ao método antigo, não será visto como uma derrota política?

 Voltar ao método antigo, nunca!!! Gritou de imediato outro militante. Se houver divergências profundas e insanáveis entre a direcção bicéfala, podemos sempre recorrer alguém que possa acumular os dois cargos. Basta, para tal, que nomeemos um bissexual e, nesse caso, não haverá qualquer recuo.

Entretanto uma jovem com ar bastante decidido, de andar seguro e olhar penetrante, aproximou-se do microfone, pediu silencio e iniciou o seu discurso:

Pois eu, camaradas, estou radicalmente contra a ideia de um partido dirigido, conjuntamente, por um homem e uma mulher. Apresentar isso como uma medida revolucionária é o maior disparate que já ouvi em toda a minha vida.

Então nós, BE, que tanto lutamos para juntar homens com homens e mulheres com mulheres. Nós, que conseguimos o casamento entre as pessoas do mesmo sexo, vamos agora regredir centenas ou milhares de anos? Não, camaradas, juntar um homem com uma mulher não faz parte do nosso património genético. Se pretendemos algo verdadeiramente revolucionário, então o que eu proponho é uma direcção composta por vários homens e várias mulheres onde todos, sem complexos, peias ou espartilhos, se relacionem, em plena liberdade e num espírito de perfeita bigamia.

Naquela altura a assistência, que perante tanta determinação, já se encontrava ao rubro, aplaudiu estrondosamente aquela intervenção e todos gritaram em uníssono:

Viva a camarada ANA TRAGO!!!

1 comentário:

  1. Louçãmente balouçando/entre a Direita e a Esquerda/êles vão escaqueirando/ e o que vai restar é cacaria. Nota:deixo a rima ao leitor.

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