Ao contrário do que é habitual, os deputados da AR, no último debate quinzenal, combinaram entre si que nessa sessão não se falaria de despesa, focando a discussão apenas no aumento das receitas.
Assim, o primeiro ministro, António Costa abriu o debate enaltecendo as vantagens dos últimos aumentos de impostos, com o seguinte discurso:
O aumento dos combustíveis deveu-se exclusivamente para proteger o ambiente.
Contra a nossa vontade, mas em nome da saúde pública, não tivemos outro remédio senão sobretaxar as bebidas alcoólicas e os alimentos com excesso de gorduras.
Para proteger os cidadãos do perigo da diabetes, vi-mo-nos obrigados a aumentar as bebidas açucaradas.
Do lado da oposição, a deputada Assunção Cristas, foi a primeira a usar da palavra e talvez inspirada por uma estilo do antigo presidente, Paulo Portas, começou com o seguinte discurso:
Olhe a comida "pa" cão, Senhor primeiro ministro, Olhe a comida "pa" cão. Se a comida "pa" cão tivesse uma sobretaxa não havia tanta bosta nesta cidade. Enquanto candidata à presidência da cidade de Lisboa, eu é que sei como ficavam os meus sapatos, depois daquelas arruadas que tive que fazer.
Nessa altura, o representante do PAN (Partido dos Animais e Natureza), puxou pela natureza e sem esperar pela sua vez, saltou da cadeira e disse: Deixe lá a comida "pa" cão, srª deputada, se a senhora quer aumentar os impostos à custa dos animais, então que de obtenha o dinheiro à custa das touradas; Taxem-se as capas, aumentem-se os impostos sobre as farpas e sobretaxem-se as bandarilhas.
Sabe Srª deputada, só o valor daquelas casacas bordadas a ouro que os cavaleiros, marialvas, usam, davam para construir meia dúzia de canis, evitando assim tantos animais abandonados. Uma vergonha!!! Srª deputada, uma vergonha!!!
Chegada a vez de Passo Coelho, homem experimentadíssimo, em tudo o que diz respeito a aumento de impostos, entrou por uma área onde até então ninguém se tinha atrevido, começando assim:
Sr. Primeiro Ministro, se o seu governo não fosse tão incompetente, já teria aplicado um imposto às gorjetas auferidas pelos profissionais da restauração. Com a explosão do turismo e o apetite que os portugueses têm por um almocito no restaurante, esse imposto seria importantíssimo para reduzirmos a dívida pública. Acrescentando em seguida: E não vale a pena vir com a desculpa que esse imposto é de difícil aplicação. Se a Geringonça não se tivesse apropriado do direito à governação que me era devido, neste momento, à semelhança do "e-fatura", eu já teria implementado o sistema "e-gorjeta" e, em simultâneo, teria lançado o sorteio, semanal, "gorjeta da sorte". Assim, os portugueses dariam gorjetas com mais satisfação e os cofres do estado ficariam a ganhar.
Enfim, foi uma tarde diferente e pela primeira vez, na AR, houve debate sem que ninguém reclamasse mais despesa.