sábado, 18 de dezembro de 2021

PJ: "uma lança em África"

 

João Rendeiro detido pela Polícia Judiciária



A captura do foragido João Rendeiro é, sem dúvida, uma das façanhas mais espetaculares efetuadas pelas nossa forças de segurança.

Como o diretor da PJ explicou nas diversas conferencias de imprensa, entrevistas e colóquios, no dia seguinte à detenção de João Rendeiro, os trabalhos de investigação iniciaram-se logo que se soube da sua fuga.

A primeira grande missão foi efetuada por dois homens temerários da PJ que com grande coragem se atreveram a fazer uma incursão na Quinta Patino, mais precisamente na casa de João Rendeiro, alias na casa da sua mulher que gentilmente foi cedida pelo motorista do marido. 

O plano era o seguinte: Enquanto um dos agentes, colocado numa posição estratégica, de binóculos em punho, se assegurava que a esposa de João Rendeiro se encontrava entretida na sua conchinha, acariciando e fazendo festas aos seus três grandes amores ( a Joana, a Clara e a Boneca), o outro agente conseguiu-se infiltrar na habitação, arrastando-se silenciosamente até à lavandaria de onde pode surripiar uma peça de roupa do fugitivo, mais propriamente dito um pijama que felizmente ainda não tinha passado pela máquina de lavar.

Embora parecendo de pouca importância, aquele artefacto veio mais tarde a revelar-se de um valor incalculável para a investigação, visto que a referida peça tinha a suvaqueira toda manchada de suor, fruto de grande atividade que o homem desenvolveu durante a noite que antecedeu a fuga.

 Sim! porque eram tantas as transferências bancarias , tantos os offshores, tantos os cartões de credito e outras tantas coisas do mundo financeiro  a por em ordem antes de dar de frosque que a transpiração teria necessariamente que acontecer.

A segunda fase da investigação será porventura aquela onde até hoje nenhuma outra polícia conseguiu um tão grande grau de inovação.

Já se conhecia uma panóplia de atividades que hoje se fazem à distância, como o teletrabalho, a teleconferência, a videochamada, etc, etc.

O que ainda ninguém tinha conseguido era a teleinvestigação. 

Pois bem a nossa PJ fez à distância aquilo que nem a policia da África do Sul conseguiu fazer no seu próprio território. Isto é, descobriu o foragido sem ter de sair de casa.

A base do sucesso está no treino inovador dados aos cães polícia.

Numa primeira fase pensou-se na utilização de cães pisteiros, mas alguém  com mais anos de experiência, alertou para o facto de, com esse método, ser humana e caninamente impossível seguir uma pista tão longa, desde Portugal até à Africa do Sul.

Assim, e aqui é que está a verdadeira "lança em África", em vez de cães pisteiros, a PJ decidiu treinar cães Googleiros.

O principio baseia-se na constituição duma  dupla de cães em que um dos animais é colocado no terreno a explorar, doraavante designado por  "Cão remoto",  enquanto o outro animal fica nas instalações da PJ, sobre uma espécie de video floor, preenchido com a aplicação do  google maps. Este animal passará então a ser conhecido pelo nome de "Cão local" ou "Google cão" se der mais jeito

Entre o "Cão local"  e o "Cão remoto", previamente enviado para a África do Sul, desenvolveu-se um inovador modelo de comunicações  que, em matéria de olfato e georreferenciação, os mantem em perfeita sintonia, o sistema é designado por "protocolo canino.pj"

Depois foi todo um trabalho de paciência: Definiu-se no video floor quais os locais com maior probabilidade por onde o foragido pudesse andar, fazia-se avançar o "cão local" para esse ponto, dava-se-lhe a farejar o pijama surripiado por cá, enquanto o cão remoto ia progredindo no terreno, farejando e procurando o pijama vestido por lá.

 Após três longos meses de trabalho árduo, todos aqueles esforços foram compensados

Foi um dia histórico para a PJ quando um dos agentes daquela missão observou que o "Cão local" ficava excecionalmente excitado sempre que o mapa apresentado se fixava na zona de Durban.

À medida que o agente de serviço fazia zoom nessa zona sobre o Google maps, a excitação do animal aumentava, fitando as orelhas, soltando  latidos, havendo mesmo um momento em que se via o bicho a esgravatar sobre o ecrã, como se quisesse dizer: "É nesta toca que se encontra a peça"

A partir daqui as nossas autoridades estavam então em condições de fornecer todas os dados à polícia da África do Sul sobre o local onde se escondia o tresmalhado, tais como: a região, o hotel, o número do quarto e até a eventual marca do pijama que o foragido pudesse vestir na altura da detenção

Na conferencia de imprensa dada pelo diretor da PJ, o seu contentamento era tanto que usava mesmo o discurso no modo singular, dizendo:

Já está, na minha cabeça, delineado todo o plano para efetuarmos o resgate do foragido.

A primeira parte do plano é a escolha da transportadora, disse o diretor, para tal, escolhemos a nossa companhia de bandeira, a TAP.

Detalhando melhor, explicou: Mesmo que o processo se arraste por mais quatro ou cinco meses na África do Sul, com a injeção de três mil e setecentos milhões de euros que o governo vai injetar na TAP,  temos quase a certeza que nessa altura a empresa ainda existirá. Portanto daí não virá nenhum risco.

Interrogado por um jornalista se mesmo com a existência da TAP, não pudesse existir o risco daquela rota ser suprimida por imposição de Bruxelas, dado que a companhia vai ter mesmo que "encolher", o Sr. diretor respondeu logo com um brilho nos olhos e até com uma certa vaidade: Não sr. jornalista, esse problema não existe porque, não se esqueça que aquilo é uma zona de PALOP e como o principal objetivo da nossa transportadora é assegurar as ligações entre o nosso Portugal e os PALOP, está-se mesmo a ver que aquela será a última rota da nossa querida TAP a desvanecer-se. 

A segunda parte do plano, explicou o diretor da PJ, tem a ver com a viagem propriamente dita. O prisioneiro, logo que entre na aeronave, será fortemente algemado e agrilhoado do modo que nem sequer possa espernear, junto a cada porta ficarão dois polícias armados "até aos dentes" e não faltarão também snipers estrategicamente colocados.

Um pormenor importante que sempre pairou na minha cabeça, explicou o diretor, é que será expressamente proibido, no avião, a existência de qualquer paraquedas, parapente ou asa delta. Isto para evitar que o foragido caia na tentação de se "pisgar" a meio da viagem usando um dos meios supra citados. 

Finalmente, aquilo que parecia ser a parte mais fácil do plano, veio a revelar-se um verdadeiro quebra cabeças. Isto é, a escolha do aeroporto para o términus da viagem.

Tratando-se dum dos maiores acontecimentos nacionais dos últimos cinquenta anos, e com um grau tão elevado de segurança requerido, desnecessário será dizer que todo o tráfego aéreo no aeroporto de desembarque terá que ser desviado. Logo, tanto o aeroporto da capital do País (Humberto Delgado), como o aeroporto da capital do turismo(Faro) estavam fora de questão.

Em seguida, explicou o conferencista, analisamos a hipótese do novo aeroporto de Montijo ou Alcochete ou Rio frio ou outra coisa qualquer que por aí apareça, todavia, essa escolha pareceu-nos demasiada arriscada porque mesmo que aquele processo se arraste na África do Sul por meses, anos ou até décadas, o mais provável é que nessa altura ainda estejam a decorrer os estudos de impacte ambiental. Portanto a decisão de contarmos com o novo aeroporto foi : Jamais!!! JAMAIS!!!

Há uma parte do plano que o Diretor omitiu, para não ferir suscetibilidades territoriais, mas que cá o pirata descobriu em primeiríssima mão ( modéstia à parte mas  esta nem o Marques Mendes deu por ela)

Tratou-se da hipótese de usar o aeroporto Sá Carneiro. Mas aí a coisa fiou mais fino.

Logo que o presidente da Camara, Rui Moreira soube da marosca, tomou uma atitude verdadeiramente enérgica, dizendo: O quê? Então a TAP quando é para servir os nossos concidadãos não mete cá os pés (neste caso as asas) e agora para despejar um fora da lei é que se lembraram de nós? Pois fiquem a saber que mesmo que eu, por causa do processo Selminho, venha a perder o mandato, ou vá até parar  atrás das grades, mesmo assim estou em condições de afirmar que aqui, na nossa cidade, existem forças vivas suficientes, nomeadamente  as que estão ligadas ao mundo da política e do futebol, capazes de garantir que  os foragidos nunca terão lugar em terra de gente honrada.

Perante uma atitude tão forte daquela gente do Norte e tão convicta da cidade invicta, a hipótese de Sá Carneiro morreu prematuramente. Portanto que outro remédio restaria aos centralistas da capital senão contar apenas com os recursos da prata da casa

E foi assim que, à boa maneira do desenrascanso português a coisa lá se resolveu. Valeu o facto  de alguém se lembrar que o melhor era recorrer ao nosso herói nacional das vacinas, o Vice Almirante Gouveia e Melo.

Logo que esse nome foi invocado, houve por momentos na sala, olhares com algum espanto porque se pensou que o objetivo era ir buscar o prisioneiro utilizando um submarino. Mas não era nada disso. A ideia era fazer um pedido ao Vice Almirante para meter uma cunha ao seu colega da força aérea, a fim de disponibilizar o aeroporto militar do Figo Maduro, o que foi imediatamente aceite.

Felizmente resolveu-se, por um atalho, em duas horas, aquilo que, pelas vias formais e institucionais, em tanto tempo nada se conseguiu.

Será então quase no coração de Lisboa que acontecerá esse grande acontecimento nacional, onde não faltarão as grandes figuras nacionais, tais como o nosso presidente Marcelo que fará, ao longo de todo o dia, grandes elogios às forças de segurança e ao nosso excecional sistema de justiça. 

Também o nosso primeiro ministro António Costa se prepara para estar presente nesse grande evento, repetindo vezes sem conta a sua solida e filosófica frase que é : "À justiça o que é da justiça e à política o que é da política".

Para além dos representantes da nação, estarão figuras das mais variadas forças políticas, como Margarida Martins e as manas Mortágua, denunciando a podridão do capitalismo tão bem representado por este banqueiro corrupto. 

Quem também certamente lá estará, será o dirigente do Chega, André Ventura. Claro que desta vez o homem medirá muito bem as palavras que vai pronunciar, visto que se o tribunal  já uma vez o condenou por chamar bandido a um zé-ninguém que morava no bairro da Jamaica, quão grande não seria agora a pena, se voltasse a chamar bandido a um distinto morador na Quinta Patino

Mas mais importante que as personalidades de maior relevo, será a enorme multidão formada por milhares e milhares de cidadãos anónimos que tomados por um sentimento patriótico de orgulho e gratidão, lá estarão com a bandeirinha portuguesa em punho para saudar o grande acontecimento nacional.

Correm até já rumores que para aproveitar tão grande concentração humana, alguns destacados elementos da família socialista estão a tentar convencer o ministro da Administração Interna para organizar um mega cosido à portuguesa de tal dimensão, capaz de relegar para segundo plano a celebre feijoada à portuguesa, organizada no tempo do Cavaco, aquando da inauguração do ponte Vasco da Gama.


...E o fado virá depois






sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

O homem não assume a sua lentidão

 Eduardo cabrita demite-se no dia em que se soube que o carro que vitimizou o trabalhador na A6, seguia a 163 Km/hora 



Agora é que não estou a perceber nada, compadre. Então quando acusavam o ministro de ir a 200 à hora, manteve-se no governo e agora que se soube que o homem só ia a 163 quilómetros por hora, é que se demite?

Ora, compadre, cá para mim ele demitiu-se porque sente vergonha de andar mais devagar que todos os outros ministros e secretários de estado.