Após tantas revelações de assédios sexuais, agora foi a vez de eu, Pirata do Reino, também vir a terreiro manifestar o meu caso de vítima de assédio sexual.
Foi mais ou menos na zona do mar das caraíbas. O sacana do comandante não tirava os olhos de cima de mim.
Cada vez que me cruzava com ele, eu até estremecia, sentia-me trespassado por aquele olhar frio e penetrante, via-se mesmo que o gajo era duvidoso. Por isso eu evitava a todo o custo cruzar-me com aquela bicha desgraçada.
Um dia fui chamado ao seu camarote e pensei logo para os meus botões: Ai pirata, pirata que desta vez não te vais safar.
Entrei, fiquei de pé e tremia que nem varas verdes. Foi então que aquele velhaco se ajoelhou à minha frente, começando também a marinhar pelas minhas perninhas acima.
Agora, passados tantos anos, ao ouvir a descrição de Lobo Antunes, não posso deixar de pensar que, apesar de tudo, ele teve bem mais sorte do que eu.
Primeiro, porque, ao contrário do nosso escritor, em vez calções, eu usava pantalonas, próprias de qualquer pirata que se preze, o que quer dizer que as mãos do capitão palmilharam um caminho bem mais longo que as mãos do professor do Lobo Antunes.
Segundo, porque uma das mãos do capitão era fria e picava comó caraças. Também outra coisa não seria de esperar, tendo em conta que o sacana que me apalpou foi o pirata mais famoso de todos os tempos, conhecido pelo nome de Capitão Gancho.
Imaginem como ficou a minha perninha do lado direito.
Mas apesar de tudo acabei por ter muita sorte.
Bem pior seria se, depois de tantas festinhas, o maldito gancho me tivesse ficado engasgalhado no pirilau.
Era preferível ficar com uma perna de pau, do que ficar com o pau em mau estado.
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